sexta-feira, outubro 27, 2006

Líder Israelita é acusado de abuso sexual.

No dia 16/10/2006, saiu uma nota na página principal do New York Times que abordava a denúncia da polícia de Israel de que o Presidente Moshe Katsav estuprou e abusou sexualmente diversas mulheres em seu escritório.

A denúncia ainda não foi comprovada. Aqui não se discutirá a veracidade ou a imoralidade desse evento, mas sim o que representa ter um presidente em tal posição, principalmente em Israel, centro dos conflitos do Oriente Médio.

Imaginem se, no Brasil, um presidente fosse alvo de uma acusação desse gênero. A reação seria como no caso Mônica Lewinsky? O Presidente seria absolvido pelo senado? São perguntas complexas demais e que envolve diversas variáveis.

O caso Lewinsky se aproxima em diversos aspectos com o drama vivido por Katsav. Será que diversas campanhas como “No war for Monica” surgirão? Será que Israel irá assumir uma postura mais ofensiva em relação aos seus vizinhos como forma de esconder a sujeira em baixo do tapete? São essas e outras as consequências de se ter um Presidente em julgamento por abuso sexual.

Por enquanto, as repercussões serão maiores no âmbito doméstico do que no Sistema Internacional. A partir de tais acusações, a imagem do líder fica manchada perante sua população - em especial com as alas mais conservadoras -, e a unidade e o apoio sociais requeridos para a implementação de certas políticas podem acabar sendo perdidos.

No nível externo, talvez as maiores conseqüências ainda estejam por vir: caso tais denúncias acabem levando à deposição dele, a incerteza com relação ao direcionamento político de seu substituto podem motivar a preocupação de seus vizinhos na região e das superpotências globais.

terça-feira, outubro 17, 2006

Dilema do Irã – A Problemática Nuclear.


O Irã sofre atualmente o dilema de agir de acordo com seus interesses ou realizar concessões no seu plano de política exterior. O direito à autodeterminação, a soberania, é teoricamente inegável. O grande ponto de discussão é se realmente seria vantajoso para um Estado ignorar o ditado dos mais poderosos.

Tratando o assunto em um plano ideal, o Irã teria a liberdade de fazer o que lhe fosse conveniente. Entretanto, em um plano real, por se tratar de um Estado inserto em uma área de grande instabilidade política e com um histórico de desavenças vasto, torna esta análise um pouco mais complexa. Uma autonomia negligente ao panorama externo gera um isolamento internacional sob o qual nenhum Estado consegue se manter.

Historicamente falando, o Irã é um problema antigo. Atualmente, as lideranças do país vêem na posse da energia nuclear para fins pacíficos um meio de satisfazer suas demandas para conquistar o desenvolvimento e de afirmar sua posição de potência energética regional. Para eles, o domínio desta tecnologia poderia engrandecer seus índices de desenvolvimento econômico.

O grande embate de cenário internacional se dá porque as autoridades iranianas afirmam que tal programa tem como objetivo a produção de energia para fins pacíficos. Enquanto os EUA incitam que, através do mesmo, o Irã visa conquistar a capacidade de desenvolver armas nucleares. Isso viria a desestabilizar o equilíbrio de poder na região, ameaçando não somente a Israel, mas também a seus vizinhos; Além do mais, inviabilizaria uma possível “necessidade de acesso” dos EUA e de outras potências ocidentais à região, disseminando o terror e o medo no mundo; ameaçaria a as superpotências com armas de destruição em massa, que poderiam ser voltadas contra as mesmas no caso de conflito ou de tensão.

Contra isso, os EUA visam mobilizar as posições internacionais contra este poder regional que ameaça suas ambições hegemônicas na área, em especial no que diz respeito ao acesso aos recursos naturais do Oriente Médio e à ação de suas empresas. Busca um pretexto para uma ação decisiva contra um país colocado por eles num "Eixo do Mal", junto a alguns países revisionistas acusados de estarem buscando o desenvolvimento de armas de destruição em massa e/ou de estarem patrocinando o terrorismo.

Assim, diante do que suas lideranças entendem como o intervencionismo de uma potência hegemônica no gerenciamento de suas atividades domésticas, a insistência do Irã em desenvolver o seu programa nuclear se torna uma maneira de afirmar a sua soberania.

A partir da análise do conceito pós-vestfaliano de soberania, o Irã tem que os EUA, por meio da imposição de seus interesses hegemônicos e da constante ameaça de coerção, violam os princípios da autonomia e da não-intervenção. A adoção de medidas intrusivas que visam limitar a sua liberdade e flexibilidade para definir sua própria política energética e seu plano de desenvolvimento vai de encontro ao firmado a partir de Vestfália.

Porém, tratar de soberania atualmente é, de certa forma, uma utopia, visto que sempre há alguma forma de “pressão internacional” direcionando a política doméstica de cada governo de modo com que este se encaixe no modelo global. Os Estados são convencidos a não executar plenamente todos seus projetos, mas, neste caso, considerando que outros países já o fizeram, por que o Irã não poderia estar desenvolvendo um projeto nuclear para fins pacíficos?