terça-feira, outubro 17, 2006

Dilema do Irã – A Problemática Nuclear.


O Irã sofre atualmente o dilema de agir de acordo com seus interesses ou realizar concessões no seu plano de política exterior. O direito à autodeterminação, a soberania, é teoricamente inegável. O grande ponto de discussão é se realmente seria vantajoso para um Estado ignorar o ditado dos mais poderosos.

Tratando o assunto em um plano ideal, o Irã teria a liberdade de fazer o que lhe fosse conveniente. Entretanto, em um plano real, por se tratar de um Estado inserto em uma área de grande instabilidade política e com um histórico de desavenças vasto, torna esta análise um pouco mais complexa. Uma autonomia negligente ao panorama externo gera um isolamento internacional sob o qual nenhum Estado consegue se manter.

Historicamente falando, o Irã é um problema antigo. Atualmente, as lideranças do país vêem na posse da energia nuclear para fins pacíficos um meio de satisfazer suas demandas para conquistar o desenvolvimento e de afirmar sua posição de potência energética regional. Para eles, o domínio desta tecnologia poderia engrandecer seus índices de desenvolvimento econômico.

O grande embate de cenário internacional se dá porque as autoridades iranianas afirmam que tal programa tem como objetivo a produção de energia para fins pacíficos. Enquanto os EUA incitam que, através do mesmo, o Irã visa conquistar a capacidade de desenvolver armas nucleares. Isso viria a desestabilizar o equilíbrio de poder na região, ameaçando não somente a Israel, mas também a seus vizinhos; Além do mais, inviabilizaria uma possível “necessidade de acesso” dos EUA e de outras potências ocidentais à região, disseminando o terror e o medo no mundo; ameaçaria a as superpotências com armas de destruição em massa, que poderiam ser voltadas contra as mesmas no caso de conflito ou de tensão.

Contra isso, os EUA visam mobilizar as posições internacionais contra este poder regional que ameaça suas ambições hegemônicas na área, em especial no que diz respeito ao acesso aos recursos naturais do Oriente Médio e à ação de suas empresas. Busca um pretexto para uma ação decisiva contra um país colocado por eles num "Eixo do Mal", junto a alguns países revisionistas acusados de estarem buscando o desenvolvimento de armas de destruição em massa e/ou de estarem patrocinando o terrorismo.

Assim, diante do que suas lideranças entendem como o intervencionismo de uma potência hegemônica no gerenciamento de suas atividades domésticas, a insistência do Irã em desenvolver o seu programa nuclear se torna uma maneira de afirmar a sua soberania.

A partir da análise do conceito pós-vestfaliano de soberania, o Irã tem que os EUA, por meio da imposição de seus interesses hegemônicos e da constante ameaça de coerção, violam os princípios da autonomia e da não-intervenção. A adoção de medidas intrusivas que visam limitar a sua liberdade e flexibilidade para definir sua própria política energética e seu plano de desenvolvimento vai de encontro ao firmado a partir de Vestfália.

Porém, tratar de soberania atualmente é, de certa forma, uma utopia, visto que sempre há alguma forma de “pressão internacional” direcionando a política doméstica de cada governo de modo com que este se encaixe no modelo global. Os Estados são convencidos a não executar plenamente todos seus projetos, mas, neste caso, considerando que outros países já o fizeram, por que o Irã não poderia estar desenvolvendo um projeto nuclear para fins pacíficos?