quarta-feira, agosto 13, 2008

Currency Crisis - Modelos de 3 Gerações de Crises Monetárias.

Krugman define crises monetárias em termos da falta de confiança dos investidores sobre a moeda. Na tentativa de entender e explicar tais fenômenos foram desenvolvidos, ao longo do tempo, modelos de três gerações: Modelo Canônico (Primeira Geração), Modelos de Segunda-Geração e Modelos de Terceira Geração (crises auto-realizadas,contágio, grandes agentes, herd behavior).
O Modelo Canônico tem sua origem com Salant (1970), em que havia uma preocupação com a estabilização via agências internacionais, dos preços das commoditties, o que levava a uma especulação devastadora. Tal modelo foi posteriormente aperfeiçoado por Krugman (1979) e Garber (1980). O fundamental nessas abordagens era que as crises cambiais em uma economia com perfeita mobilidade de capitais eram resultado de inconsistências entre as políticas domésticas (déficits orçamentários financiados por imposto inflacionário) e a tentativa de manutenção de uma taxa de câmbio fixa, uma vez que o governo possui um estoque limitado de reservas para manter o câmbio.
A tentativa de financiamento da dívida pública via criação de uma base monetária leva a elevação do “shadow-price” (entendido como o preço esperado pelos agentes) da divisa doméstica, que por sua vez, gerava uma redução progressiva das reservas internacionais. De maneira geral, quando este é mais elevado do que a taxa de câmbio, esperam-se ataques especulativos. É importante ressaltar, no entanto, que a origem da crise externa advém do desequilíbrio do setor público que, ao monetizar um déficit fiscal permanente, produz ondas de ataques especulativos (entendidos como: fuga de capitais + desvalorização do câmbio + crise do balanço de pagamentos, Saldo em Transações Correntes.). Assim sendo, neste modelo, os Bancos Centrais têm um papel totalmente passivo e mecanizado pois apenas intervém no mercado para defender a taxa de câmbio. Fundamental nesse modelo é que a deterioração dos fundamentos macroeconômicos é condição necessária e suficiente para a ocorrência dos ataques especulativos.
O marco inicial dos modelos de 2ª Geração é Obstfeld (1990). Os Modelos descrevem um trade-off (defender ou não a taxa de câmbio) do governo que consiste entre flexibilidade macroeconômica de curto prazo e credibilidade da política econômica em longo prazo. Decidem se priorizam o controle da inflação ou uma menor taxa de desemprego. Esses modelos trazem uma sensação de “inevitabilidade” das crises pelas afirmações sobre a presença de “sunspots” (eventos circunstanciais que podem alterar o regime de câmbio), independentemente da solidez dos fundamentos macroeconômicos e do consenso comportamental dos players do mercado. Nesse sentido, a mudança do regime cambial assume forma de profecia auto-realizável, uma vez que a deterioração dos fundamentos macro é condição necessária mas não suficiente para a ocorrência de ataques especulativos (a condição suficiente é a existência de “sunspots”). Defender a paridade do câmbio pode ser muito dispendioso, o que leva a um aumento da taxa de juros elevada. Os especuladores tentam antecipar-se à desvalorização, conduzindo a economia para uma desvalorização antes que os fundamentos macro realmente forcem a deterioração do câmbio, que leva ao colapso da moeda.
Nos Modelos de 3ª Geração de Calvo (1996) e Krugman (1998), a crise cambial é parte integrante de uma crise geral da economia sendo pré-anunciada por crises financeiras. A crise externa está relacionada a ação do setor bancário e instituições financeiras em um contexto de desregulamentação do sistema financeiro (cessão desenfreada de crédito e alavancagem do setor privado financeiro e não-financeiro em tomar recursos do mercado para compor seus portfólios coberto pela ação do BACEN) e garantias para os empréstimos concedidos ao setor privado (criando um moral hazard gerado pelo BACEN). A crise se dá a partir de uma crescente fragilidade do sistema bancário resultante da deterioração dos créditos, levando a ataques especulativos. O aumento da oferta de moeda valida a corrida especulativa contra a moeda doméstica, levando ao pânico financeiro e a consequente perda de reservas internacionais. A crise cambial é definida como consequência de uma profecia auto-realizada, causada por um pessimismo que se confirma e por políticas econômicas inconsistentes com a manutenção do câmbio fixo, em longo prazo. Problemas de fundamentos macro (nível de reservas/situação fiscal do governo/fragilidade financeira) podem levar a um ataque especulativo. Nesse sentido entendemos o contágio como uma brusca deflação de ativos em um determinado mercado provocando a venda de ativos em outra praça financeira para compensar perdas de portfólio dos mega investidores. Isso só é possível devido à alta mobilidade de capitais, com o aumento das transações especulativas em moeda estrangeira. Os fluxos de capital podem ter uma ação disruptiva sobre países e setores canônicos, além de comprometer a autonomia das políticas macrodomésticas. Esse é o “Dilema da Globalização Financeira”: enquanto amplia oportunidades de financiamento e investimento com a diversificação dos instrumentos financeiros (securitização e derivativos), pode gerar efeitos econômicos adversos (extrema volatilidade do câmbio – entrada e saída muito rápida de capitais) que podem levar ao colapso das decisões de investimento. Nesse modelo os ataques especulativos são resultado das ações dos global players que utilizam grande quantia de recursos para adquirir opções e futuros de câmbio a uma taxa central mais baixa do que esperam para um futuro próximo. Tais “ataques” podem começar assim que os especuladores acreditem que o governo não seja capaz de dar suporte à demanda total de convers~ao de ativos em moeda estrangeira. (taxa de câmbio+expectativa de desvalorização/valorização cambial).
Os processos especulativos se dão quando ativos financeiros sub-valorizados sofrem um choque de demanda, levando a uma espiral altista de preços (inflação de ativos) que tende a se realimentar, valorizando a moeda doméstica. A ruptura do processo se dá quando uma deflação de preços leva a um colapso. Os BC’s então elevam a taxa de juros e/ou queimam reservas, levando a um rearranjo de portfólios globais.
Nos estudos de caso, Krugman coloca que no caso Europeu, o Modelo Canônico não poderia ser utilizado, uma vez que não havia necessidade de financiamento da dívida pública via monetização. A causa da crise foi o desemprego por demanda inadequada e a resultante pressão nas autoridades monetárias para exercerem políticas expansionistas. Essencialmente, a crise Européia se deu frente a um trade-off entre custos políticos do desemprego e os custos políticos de se sair da UME. Quatro aspectos devem ser ressaltados: 1) atuação de Geoge Soros; 2) Irrelevância de reservas cambiais; 3) Crise praticamente não antecipada pelo mercado; 4) Países que abandonaram a paridade se deram melhor do que os que se mantiveram apegados à esta.
Já na Crise Latino Americana, principalmente no México e Argentina, existiam problemas de fundamentos econômicos e, no caso do México principalmente, surgiu de eventos não esperados (sunspots – Rebelião e assassinato de candidato à presidência). Em comparação com a crise Européia, tinham pontos de contato em que a quebra dos mercados financeiros anteciparam as crises e a maior diferença é o pós-crise, muito mais profunda nas Américas, pior ainda para a Argentina que não teve um massivo pacote de ajuda dos EUA.
Na Crise Asiática também contava-se com inconsistências nos fundamentos econômicos. Desenvolveu-se uma preocupação sobre fraquezas financeiras devido aos investimentos que eram feitos a partir de empréstimos “mal informados”. A confiança dos investidores nos governos da região não era completa. A Crise Asiática demonstrou como todas as economias são interligadas e que o perigo do contágio é realmente algo preocupante.
As formas de prevenção de crises são duas: Ou uma união monetária nos moldes europeus, ou o livre cambismo, que parece ter sido mais adotado. O câmbio livre previne crises especulativas, mas não desvalorizações e crises monetárias.

Construção, Crise e Retomada da Hegemonia Norte-Americana

A construção da hegemonia Norte-Americana pode ser pautada sobre alguns pilares políticos e econômicos. Desde o fim da I Guerra Mundial, havia um vácuo de poder no que tange a uma unidade política organizadora do sistema internacional, não havendo nenhuma unidade disposta e capacitada para assumir tal posição. Como ressaltado por Arrighi, a França e, de certa forma, a Alemanha, almejavam a posição mas não possuiam as condições necessárias para assumí-la. Por sua vez, os EUA não tinham a ambição e nem a vontade política de se coloca nessa posição, mantendo sua postura pseudoisolacionista do outro lado do Atlântico. No entanto, persistia a necessidade de uma potência hegemônica dominante capaz de conciliar as políticas econômicas domésticas dos países soberanos com uma ordem monetária internacional.
Com os rumos da II Guerra Mundial já praticamente delineados e com o engrandecimento da ameaça comunista, os EUA assumem uma postura organizadora do sistema. Com a criação de Bretton Woods, instaura-se o padrão ouro-dólar em substituição ao padrão-ouro vigente no período anterior. Dessa forma, evitaría-se a volatilidade cambial, buscando-se a liberalização do comércio, estabilidade monetária e interdependência econômica global, o que traria mais eficiência e estabilidade ao sistema. Além disso, seriam criadas instituições financeiras como o FMI, Banco Mundial e o acordo do GATT que permitiriam uma gestão racionalizada e com divisão dos custos (tanto econômicos quanto políticos).
O compromisso das economias com o Embbeded Liberalism, de John Ruggie, demonstra a influência de cunho ideológico que permeia o cenário internacional. Havia o compromisso com o liberalismo, mas com uma política macro-econômica expansionista, em que o aumento dos gastos do governo geraria um efeito multiplicador nas economias. Caso o livre mercado agisse realmente sozinho, poderia-se não chegar aos objetivos preestabelecidos, uma vez que os mercados estavam com problemas crônicos de capitais produtivos e mão-de-obra. O Estado tinha, agora, um novo papel no liberalismo. Havia ainda o medo do retorno do nacionalismo destrutivo (fascismo/nazismo), desenvolvidos em oposição ao liberalismo tradicional, que deveriam ser evitados. A Doutrina Truman surge como um marco na formação hegemônica dos EUA, uma vez que simboliza a tomada do papel de administrador do sistema. Estariam dispostos a lançar ajuda a qualquer país para evitar a ameaça soviética.
A hegemonia Norte-Americana constrói-se sob a forma institucional, racionalizada, interdependente, com custos divididos e sob a ideologia do Embbeded Liberalism. É a tentativa de criar uma nova ordem mundial estável, em oposição aos fatores que levaram ao nacionalismo destrutivo e ao socialismo. Desta forma, busca resgatar e assimilar as economias destruídas e, inclusive, algumas economias menores.
Esse conjunto de fatos determinou a época de ouro do capitalismo, vivido até o fim dos anos 60 e início dos anos 70. Tal prosperidade foi proporcionada pela liderança internacional dos EUA e o compromisso de todas as economias com o Embbeded Liberalism. No entanto, os privilégios econômicos e políticos dos EUA, como emissor da moeda base do sistema, preocupavam os demais países. Não havia necessidade de se preocupar com os déficits americanos na condução de suas políticas, uma ve que os outros Estados acabariam imbutindo e financiando seu déficit na balança de pagamentos. No entanto, também não havia a possibilidade de desvalorizar o dólar frente as outras moedas, que automaticamente também seriam desvalorizadas. Havia um excesso de liquidez no mundo acompanhado de uma perda de reservas, uma vez que Alemanha e Japão exportavam muito mas com proteção. Ocorria o Dilema de Triffin, uma contradição entre liquidez e a confiança internacional, que minou a confiança dos atores em relação aos EUA. Existiam mais dólares no exterior do que havia a quantidade lastreada de ouro, logo, havia a insegurança de que fosse gerada uma crise especulativa e uma corrida para a troca de dólares por ouro. O dilema rompe com o acordo de cavalheiros entre os EUA e os parceiros ao redor do mundo, rompe o alinhamento mundial com a política macro-econômica americana e sepulta o Embbeded Liberalism. A situação ainda foi deteriorada pelos acontecimentos históricos, como o acirramento da Guerra do Vietnã, em que os EUA exportavam sua inflação doméstica para todo o mundo. A “estagflação”, antes inconcebível, ajudou a sepultar o sistema. Inflação, antes, era inversa a estagnação/desemprego. No entanto, a “Euroesclerose” com seus efeitos inflacionários aliado a Crise do Petróleo em 1973 levou a um momento de recessão econômica acrescida de inflação, ou seja, o sistema monetário internacional encontrava-se no mais absoluto caos, o que força a mudanças.
A retomada da hegemonia Norte-Americana se dá em dois movimentos: Geopolítico e Geoeconômico. No primeiro podemos ressaltar a importância da “Política do Dólar Forte”, instaurada no governo Nixon pelo Paul Volcker, a partir do aumento do juros americano. Aliado a isso, temos a quebra do regime ouro-dólar e a legalização do regime de cambio flutuante e da livre conversibilidade, que significava uma maior autonomia doméstica para os Estados na condução de sua política doméstica. Uma revolução financeira é realizada, com o desenvolvimento de um novo sistema financeiro desregulamentado, com maior mobilidade de capitais e um aceleramento na circulação e volume destes, criando uma relação muito maior de interdependência das economias. Claro, surgem empecilhos à essa ordem, como o novo protecionismo, o regionalismo, etc. Por sua vez, o movimento Geopolítico é marcado pela detènte da Guerra Fria.
Ao meu ver, a “crise da hegemonia dos EUA” serviu para mostrar o quanto sua hegemonia é forte e distinta de qualquer outra. Quando pressionado e obrigado a tomar uma decisão entre sua estabilidade doméstica ou a liquidez internacional, os EUA claramente dão preferência ao seu âmbito doméstico. O dólar é americano e o problema é de todos. Mesmo com essa decisão, já no câmbio flutuante, o dólar continua sendo a moeda base do sistema. Ou seja, os EUA viram as costas para o mundo e, de certa forma, forçam todos a mudar a condução de suas políticas domésticas em função da sua. Todo o sistema muda em sua função e não os EUA mudam em função do sistema.

O Fundo Soberano Brasileiro - O Cofrinho do Ministro e o Debate Nacional


1. Introdução: O que é um “Fundo Soberano”?


O Fundo Soberano, também denominado Fundo de Riqueza Soberana (Sovereign Wealth Funds), é a reserva monetária internacional de um determinado Estado aplicada em investimentos de maior rentabilidade e, geralmente, maior risco. Normalmente, são criados pelos governos quando esses se vêem em uma situação confortável em relação às suas reservas internacionais, ou seja, quando o volume de suas reservas ultrapassa aquele admitido como suficiente e necessário para que seu país seja capaz de enfrentar eventuais emergências financeiras. Chama-se “fundo” porque se refere a um capital voltado para aplicação em investimentos, e “soberano”, pois o capital em questão é aquele detido por um determinado Estado.
Assim, um país utiliza suas reservas monetárias como uma ferramenta no controle de crises nacionais e internacionais, embora estas possam rapidamente “virar pó” em um contexto de crise monetária nacional. No entanto, é notável que com essas reservas, os países tem como reagir mais efetivamente a crises, na tentativa de evitar a total estagnação de suas economias. Nesse sentido, as reservas internacionais, isto é, reservas que um determinado país detém em forma de moeda estrangeira, tradicionalmente costumavam ser empregadas para a obtenção de ativos líquidos de baixo risco, bastante conservadores, e conseqüentemente, de baixa rentabilidade (normalmente Títulos do Tesouro Norte-Americano devido à segurança e liquidez que o ativo oferece[i]). Porém, o mercado financeiro internacional vem apresentando novos padrões de investimento por parte dos governos. A prática de desenvolver fundos soberanos está tomando espaço no cenário internacional, e usualmente é aplicada por países que são grandes exportadores de commodities energéticas (como por exemplo, a Noruega, exportadora de petróleo) ou por países que possuem grandes superávits comerciais e reservas excedentes, o que lhes permite correr mais riscos (como no caso chinês) na busca de um retorno mais lucrativo. Esse patrimônio em moeda estrangeira contido no Fundo Soberano é administrado pelos organismos estatais, que geralmente aplicam-no fora de seus respectivos países, sendo utilizados em projetos internacionais de interesse dos governos. Os recursos também são, por vezes, empregados no apoio à produção nacional[ii].
Enquanto os recursos ainda concentravam-se na obtenção de Títulos do Tesouro norte-americano, a atuação dos Fundos Soberanos pôde passar quase que despercebida no mercado financeiro internacional. Contudo, a situação mudou a partir do momento em que a atuação dos Fundos Soberanos de países estrangeiros começou a se voltar para a aquisição de grandes empresas e bancos em outros países, o que alarmou principalmente os países desenvolvidos. Dessa forma, o clima político em relação à atuação do Fundo Soberano tem ficado tenso, pois existe um grande receio de que esses fundos assumam posições dominantes ou até obtenham a posse total de empresas estratégicas e bancos, ameaçando o poder dos países nos quais esses setores estratégicos se localizam.[iii] O temor é que a atuação desses fundos fuja a lógica econômica e tome por objetivo o domínio de setores chaves da economia de um país por outro. Em grande medida, esse temor é ampliado devido ao fato de que os Fundos Soberanos não são regulamentados por nenhum tipo de organismo internacional capaz de controlar suas atuações. Não há nem mesmo a obrigação de que esses fundos emitam qualquer tipo de relatório sobre suas operações. Por isso, países mais industrializados (G7, por exemplo) pressionam internacionalmente pelo estabelecimento de um código de boas práticas para estes fundos, com o objetivo de promover "transparência e previsibilidade" em suas atuações no mundo financeiro, diante das conseqüências potenciais que poderão ter sobre os mercados financeiros e os investimentos.[iv]

2. O Fundo Soberano Brasileiro e os Argumentos Pró sua Criação


Nos últimos 30 anos, o mundo tem passado por um intenso processo de globalização financeira. Esse processo ancorado no dólar dos EUA veio acompanhado de grandes crises cambiais que afetaram muitos países, levando ao seu endividamento externo. Contudo, principalmente nos últimos cinco anos, favorecidos pela excessiva liquidez internacional, seguida do crescimento da economia mundial que serviu de estímulo à elevação da demanda e dos preços internacionais, os países que haviam sido fortemente afetados pelas crises conseguiram finalmente livrarem-se da situação de sufoco cambial crônico, na qual agonizavam desde a década de 1980. Esse novo contexto possibilitou que tais países quitassem a maior parte de seus compromissos com organismo internacionais, como o FMI, e que, até mesmo, acumulassem um volume recorde de reservas internacionais.
A acumulação de reservas pode ser vista como uma ferramenta fundamental , principalmente para países como o Brasil, que já amargaram profundamente com crises cambiais no passado, no controle da economia doméstica, especialmente em tempos de crises monetárias devidas à alta mobilidade e volatilidade dos fluxos de capitais. Assim como outros países que já estiveram nesta situação, o Brasil passou a acumular, nos últimos anos, grandes reservas em uma velocidade recorde na história do país. Tradicionalmente os Fundos Soberanos foram instituídos por países que se caracterizam como grandes exportadores de petróleo, no entanto, atualmente, essa prática se estendeu também aos países em desenvolvimento, devido ao incremento inédito de suas acumulações de reservas internacionais e superávits primários constantes.
No Brasil, o alívio em relação à melhor situação da dívida externa e esse elevado volume de reservas em moedas estrangeiras acumulado pelo país nos últimos anos tem dado estímulos à criação de um Fundo Soberano Brasileiro.[v] Nesse contexto, o Brasil, como a oitava maior reserva internacional do mundodiscute se o atual momento seria apropriado para a criação do Fundo Soberano Brasileiro (FSB).
Neste debate, encontram-se de um lado, aqueles que são a favor da criação do FSB, dentre eles o atual Ministro da Fazenda, Guido Mantega, que afirmam a posição do Brasil como credor no mercado internacional, e que o forte e crescente fluxo de entrada de recursos externos e a elevação do país a grau de investimento proporcionam o momento propício para o estabelecimento do Fundo.[vi] Segundo eles, desta forma, estancaria-se a perda que ocorre devido à baixa rentabilidade dos recursos brasileiros, numa referência às reservas já mantidas pelo Banco Central, já que a maior parte está aplicada em Títulos do Tesouro Norte-Americano.[vii]
O FSB já anunciado pelo governo cumpriria a função de realizar investimentos no exterior para apoiar projetos de interesse estratégico e ampliar a rentabilidade dos ativos financeiros mantidos pelo setor público. Para tanto, o fundo iria capitalizar o BNDES no exterior, possibilitando que o banco financie empresas brasileiras e seus projetos no exterior, servindo também para a internacionalização das empresas nacionais. Outro benefício trazido pelo FSE seria a utilização do mesmo como instrumento de contenção dos gastos públicos, visto que os recursos não seriam aplicados em território nacional. Além disso, muito relevante para o cenário atual, o Fundo teria o papel de enxugar a liquidez de dólares no mercado interno, contendo a valorização do Real e, ainda, permitindo uma poupança fiscal para conter a alta da inflação. Reforçando o argumento, o Ministro da Fazenda afirmou que a fonte dos recursos que irão para o FSB será uma parcela do que exceder a meta de superávit primário.[viii] Seria uma “economia adicional de 0,5% do PIB, correspondente a 13 bilhões de reais. Segundo a explicação de Mantega,
“As reservas, por sua própria natureza - porque elas têm que dar cobertura cambial ao país - têm de ser aplicadas de forma conservadora - como o são. E, portanto, o rendimento delas costuma ser menor. Porém, o que estamos falando é de um excedente para além das reservas. As reservas continuarão e nós teremos um excedente, que será aplicado de forma mais rentável.”[ix]
Em defesa do Fundo, também é argumentado que o mesmo aplicará o excedente dessas reservas nacionais com a finalidade de estabelecer uma poupança interna para momentos de crise de arrecadação, como um mecanismo anticíclico.
Para a maior parte de seus defensores, em suma a criação do Fundo seria oportuna para dar auxílio na contenção da queda do dólar e permitir avanços no setor produtivo, além de ser uma forma de melhorar a rentabilidade de nosso superávit. Dessa forma, alguns atacam os opositores do FSB como neoliberais que querem partir para a destruição da indústria nacional, já que são contra o Fundo que proveria investimentos vitais para seu crescimento.
Preocupado com a questão da tensão política que a atuação do Fundo pode causar, o Ministério da Fazenda estabeleceu que semestralmente será encaminhado um relatório ao congresso a fim de garantir a transparência das operações do FSB. Nesse sentido, o governo também se preocupou em estabelecer um limite máximo de recursos destinados ao FSB, por meio de um decreto de regulamentação do Fundo.

3. O Fundo Soberano Brasileiro e os Argumentos Contra sua Criação


Do lado dos críticos do FSB da maneira proposta pelo governo, encontra-se um grupo de peso, composto por Luiz Gonzaga Belluzzo, Delfim Neto, João Paulo dos Reis Velloso e Aloísio Mercadante. As críticas às ações do governo podem se concentrar na origem dos recursos, na interferência sobre o câmbio e sobre a gestão do fundo.
No que tange às origens do Fundo, a crítica entende que a receita fiscal vem surpreendendo favoravelmente a cada mês, no entanto, o aumento dos gastos governamentais em geral, mas especialmente com pessoal, vem preocupando até mesmo os integrantes da equipe do governo. Ou seja, a qualidade da política fiscal vem se deteriorando. Além disso, argumenta que o Fundo seria mais uma forma de se intervir ativamente sobre o câmbio, cumprindo a função que o BACEN é encarregado e vem realizando há algum tempo. O terceiro argumento compreende que as maiores empresas brasileiras já se internacionalizaram e não dependem dessa fonte de financiamento. O que ocorreria seria o fomento à empresas de médio porte com crescimento recente, as quais já recorrem ao BNDES. Alguns mais extremados chegam a afirmar que estas empresas deveriam trabalhar em regime de livre mercado, capitando seus recursos de forma autônoma e sem intervenções de instâncias superiores.
Para este grupo, os recursos do esforço fiscal adicional não deveriam ser usados neste momento para a compra de dólares, pois prejudicaria o combate à inflação e reduziria o impacto do anúncio de uma redução de gastos nas expectativas do mercado.
O ponto central é que o Brasil não é um exportador de capitais. Para aprofundar a produção de exportáveis industriais via fundo soberano, o Estado precisa tornar-se um poupador líquido. Senão, haverá a necessidade de alavancar o fundo, se endividando. No Brasil, devido à política fiscal “expansionista”, as poupanças domésticas são muito baixas, e como a aceleração do crescimento requer o crescimento dos investimentos, ela requer também a absorção de poupanças externas por meio de déficits persistentes nas contas correntes. Ou seja, a partir da uma análise da política fiscal brasileira, por mais que o superávit primário seja razoável, com o pagamento dos juros, o Brasil ainda incorre em déficits operacionais, que mantem a necessidade de financiamento do setor público (NFSP) positiva. Há quem diga que mesmo os superávits atuais, são temporários, decorrentes da crise de confiança de 2002. Nesse sentido, esses superávits permitiram uma redução da dívida externa, que aliada a acumulação de reservas e elevação de preços das comodities, levou ao ciclo de apreciação do real iniciado em 2003. A aceleração do crescimento requer investimentos maiores e, dada a poupança, o país voltará aos déficits nas contas correntes, explicitado pelos dados mais recentes. Desta forma, não faz sentido criar um Fundo Soberano em um país que não exporta capitais e cuja política fiscal é pró-cíclica, com aumento gastos públicos.

4. Conclusão


A saída encontrada pelo governo foi de postergar o uso do fundo para operar no mercado de câmbio, até porque necessitaria ser aprovado e regulamentado no Congresso. No entanto, o ajuste fiscal adicional será acompanhado do Fundo Soberano. Desta forma, governo e críticos estariam parcialmente satisfeitos.
No entanto, aqui defendemos uma posição crítica mais forte, já que devido às elevadas taxas de juros, o Brasil encontra-se em uma posição de déficit operacional, por mais que em uma posição de superávit primário. Nesse sentido, o Brasil é um país tomador de recursos e não exportador destes, demonstrando que não possui o perfil necessário para a criação de um Fundo Soberano. No Brasil não existe excedente. Caso este fosse criado, estaríamos tomando recursos emprestados para poder investí-los, criando um Fundo alavancado. É uma questão de custo de oportunidade, a qual fiscalmente tende em rejeição ao fundo, no entanto, este poderá ser uma boa ferramenta de controle econômico doméstico em longo prazo, caso se cumpram as condições explicitadas ao longo do trabalho.

5. Bibliografia

CARVALHO, Jiane – Ativos devem triplicar em dez anos. Gazeta Mercantil, São Paulo, 28.11.2007, p B-1.

GIAMBIAGI, F. Dezessete anos de política fiscal no Brasil: 1991-2007. Texto para Discussão Nº. 1309. Rio de Janeiro: IPEA, novembro de 2007.

MINISTÉRIO DA FAZENDA. “Fundo Soberano terá Caráter anticíclico”. Disponível em: http://www.fazenda.gov.br/audio/2008/maio/a130508.asp. Acesso em 13.06.08

ROMERO, Cristiano - O Fundo Soberano e seus temores. Valor Econômico, São Paulo, site: - http://www.andima.com.br/clipping/051007/index.html Acesso em 09.06.2008

SCHWARTSMAN, Alexandre – Uma parábola soberana. Folha de São Paulo, São Paulo, site: http://www.andima.com.br/clipping/281107/index.html Acesso em 13.06.08

FRANCO, Gustavo - O cofrinho do ministro. Folha de São Paulo, São Paulo, publicado em 17/5/2008

CRUZ, Valdo & D’AMORIM, Sheila – Lula busca direção fora da equipe econômica. Folha de São Paulo, São Paulo, publicado em 01/06/08

PASTORE, Affonso Celso & PINOTTI, Maria Cristina – O fundo soberano e a disciplina fiscal. Valor Econômico, São Paulo, publicado em 03/12/2007.


6. Referências

[i] Os Títulos dos EUA rendem apenas aproximadamente 4,5% ao ano.

[ii] Contudo, apesar de somente nos últimos anos a prática do Fundo Soberano estar entrando em evidência, a iniciativa não é algo tão recente. Os primeiros fundos soberanos surgiram na década de 50, criados pelos países exportadores de petróleo, dentre eles o Kwait (1953).

[iii] “Duas tentativas de compra de empresas americanas nos setores de petróleo e de pontos por parte de companhias estatais da China e dos Emirados Árabes Unidos fracassaram em 2005, levando o governo americano a aprovar, neste ano, uma nova “Lei de Investimento Estrangeiro e Segurança Nacional”. Ver ROMERO, Cristiano - O Fundo Soberano e seus temores. Valor Econômico, São Paulo, site: - http://www.andima.com.br/clipping/051007/index.html Acesso em 09.06.2008

[iv] Existe ainda o temor quanto à possibilidade de esses Fundos tornarem-se elementos de instabilidade do sistema, já que parece que a tendência ultimamente tem sido um forte protecionismo no mercado de capitais. Isso porque os fundos vêm se aproveitando da crise financeira nos EUA e investindo cada vez mais em bancos e no sistema financeiro em geral.
[v] “No final de 2000, as reservas internacionais do Brasil, no conceito de liquidez internacional, totalizavam pouco mais de US$ 33 bilhões em valores correntes e em dezembro de 2007 superavam a marca de US$ 180 bilhões. Já sua dívida externa total (pública +privada) acrescida dos empréstimos intercompanhia, que fechou o ano de 2000 avaliada em aproximadamente US$ 236 bilhões, em dezembro de 2007 girava em torno de US$ 244 bilhões. Assim, a relação reservas/dívida externa que era de aproximadamente 14% em dezembro de 2000 passou para quase 74% ao final de 2007, denotando uma grande melhoria na vulnerabilidade externa do País”. Ver CARVALHO, Jiane – Ativos devem triplicar em dez anos. Gazeta Mercantil, São Paulo, 28.11.2007, p B-1.


[vi] O ministro Guido Mantega declarou, ao anunciar o Fundo, que: “O governo já está fazendo um esforço fiscal e obtendo um superávit primário maior que a meta estabelecida. Teremos um excedente que será colocado nessa modalidade. É como um cofrinho”. Ver SCHWARTSMAN, Alexandre – Uma parábola soberana. Folha de São Paulo, São Paulo, site: http://www.andima.com.br/clipping/281107/index.html Acesso em 13.06.08

[vii] Cálculos afirmam que essa perda poderia chegar a R$ 100 bilhões em dois anos, considerando-se a perda de valor das reservas devido à valorização do real e ao fato de que a rentabilidade das reservas é menor que o custo da dívida interna, em conseqüência da compra de dólares.

[viii] Atualmente, a meta é de 3,8% do Produto Interno Bruto, isto é, da soma de bens e serviços produzidos no país.

[ix] Ver: MINISTÉRIO DA FAZENDA. “Fundo Soberano terá Caráter anticíclico”. Disponível em: http://www.fazenda.gov.br/audio/2008/maio/a130508.asp. Acesso em 13.06.08

O Dilema da Cartilha Neoliberal na África

É interessante notar que, como na maioria dos países periféricos do globo, a República Democrática do Congo foi obrigada a adotar a cartilha neoliberal do FMI, criticada por muitos por ser extremamente ortodoxa e defensora dos interesses das grandes multinacionais, notadamente as Norte-americanas. Nesse sentido, o projeto de orçamento de 2007, apresentado pelo governo à Assembleia Nacional, foi marcado por uma “orientação neoliberal estrita, conforme aos arranjos acordados com os serviços do FMI”, disse o ministro congolês das Finanças, Athanase Matenda Kyelu. Assim como afirmado anteriormente, é preciso que tenhamos em mente o FMI é entendido por alguns como o ponta de lança da globalização financeira, particularmente conhecida em todos os continentes junto às populações pobres devido devastações cometidas com as medidas anti-sociais que tem imposto há um quarto de século.

A Assembléia Nacional da República Democrática do Congo adotou emendas em 14/07/2007 que reviam o orçamento, o que não agradou o FMI. Por isso, o ministro das Finanças foi forçado a intervir: "o Conselho de Administração do FMI, que se reuniu segunda-feira 18 de Junho de 2007 para examinar o estado de avanço do programa de estabilização macroeconômicas acompanhado pelos serviços do FMI, exprimiu preocupações quanto à evolução do debate em curso no parlamento acerca do Projecto de Lei orçamental 2007 [...] as previsões das receitas e das despesas foram sensivelmente revista em alta, de modo que elas não correspondem mais ao quadro macroeconômico implícito na elaboração deste Orçamento 2007". Ou seja, governo foi forçado a intervir junto ao Senado, se submetendo ao FMI e aos seus credores.

Mas qual a importância deste orçamento? Em primeiro lugar, o total do orçamento é de cerca de 2,4 mil milhões de dólares, ou seja, a mesma quantia que Estados Unidos gastaram com a ocupação do Iraque em menos de duas semanas; ultrapassando por pouco as despesas anuais operacionais do FMI, que emprega apenas 2700 pessoas. Nesse sentido, motra-se impossível reconstruir um país devastado por duas guerras que fizeram 3,5 milhões de mortos. Para comparação, a França, cuja população ronda os 60 milhões de habitante tal como a República Democrática do Congo, tem um orçamento de 520 mil milhões de dólares, ou seja, mais de 200 vezes do orçamento congolês.

Além disso, 50% dos recursos próprios da República Democrática do Congo vai para o serviço da dívida, reduzindo a capacidade do governo para consagrar os seus recursos internos. Assim, o governo encontra-se perante um trade-off: realizar os investimentos prioritários ou reembolsar credores ricos que açambarcam as riquezas nacionais. Sendo fortemente aconselhado pelo FMI, escolheu a segunda alternativa.

A conclusão a que se chega é que as riquezas congolesas não beneficiam o Estado nem a população do país, mas a alguns próximos do poder e a empresas transnacionais a cujos interesses servem o FMI e as grandes potências. Evidentemente, as despesas com a educação e a saúde são reduzidas de modo proporcional. Este projeto de orçamento é visto por alguns como impedidor da satisfação das necessidades fundamentais da população camponesa violando vários textos fundamentais, quer seja a Declaração Universal dos Direitos Humanos ou o Preâmbulo da Constituição congolesa.

Contexto Regional:

No entanto, se formos analisar um contexto histórico regional, vemos que a independência africana, depois da Segunda Guerra Mundial, despertou grandes expectativas com relação aos seus novos governos de "libertação nacional". Em alguns casos, seus projetos de desenvolvimento foram muito bem-sucedidos durante os primeiros tempos de vida independente. Este desempenho inicial, no entanto, foi solapado por sucessivos golpes, regimes militares e pela crise econômica mundial da década de 1970. A crise mundial atingiu em cheio as economias periféricas, acabando por provocar um prolongado declínio da economia africana até o início do Século XXI. Ainda na década de 90, mesmo com o fim da Guerra Fria e com o auge da globalização financeira, o continente africano ficou praticamente à margem dos novos fluxos de comércio e de investimento globais.

Entretanto, no princípio do século XXI, a economia africana ressurgiu, acompanhando o novo ciclo de expansão da economia mundial. Esse movimento foi entendido por José Luis Fiori como um “momento em que o sistema mundial ingressa numa nova ‘corrida imperialista’ entre as suas ‘grandes potências’". Nesse sentido, estaríamos passando por uma terceira fase do Imperialismo. Mesmo que Fiori esteja correto, os ganhos africanos podem ser demonstrados com o crescimento médio, que era de 2,4% em 1990, passou para 4,5%, entre 2000 e 2005 e alcançou as taxas de 5,3% e 5,5%, em 2007 e 2008. Mais ainda, no caso de alguns países produtores de petróleo e outros minérios estratégicos, estas cifras alcançaram níveis ainda mais expressivos, como em Angola, Sudão e Mauritânia. Esta mudança da economia africana deve-se principalmente ao impacto do crescimento da China e da Índia. Hoje, esse dois países consomem 27% das exportações africanas, assim como a Europa e os Estados Unidos. Na direção inversa, as exportações asiáticas para a África vêm crescendo à uma taxa média de 18% a.a. junto com os investimentos diretos chineses e indianos, sobretudo em energia, minérios e infra-estrutura. A África é, hoje, o grande espaço de "acumulação primitiva" asiática e uma das principais fronteiras de expansão econômica e política da China e da Índia.

O desempenho econômico sólido na década de 1995-2005 em toda a África contrasta fortemente com o colapso econômico de 1975-1985 e com a estagnação que o continente viveu em 1985-95. É possível manter o crescimento, acelerando a produtividade e aumentando o investimento privado. No entanto, a melhoria da conjuntura e da infra-estrutura empresarial nos países africanos, assim como encorajar a inovação e aumentar as capacidades das instituições torna-se primordial.

O desempenho econômico em 2005 foi bastante irregular entre os diferentes países, passando de -2,2% no Zimbabué para 30,8% na Guiné Equatorial. O problema está em que grande parte desse crescimento é resultado das altas do preço do petróleo, já que na África existem grandes exportadores de petróleo e pela escassez de recursos, grande instabilidade, predisposição para conflitos, em países que foram afectados ou saíram recentemente de conflitos, simplesmente encontrados num crescimento lento inferior a 4%.

Segundo a análise do Banco Mundial em 14 de Novembro de 2007, seguindo a cartilha neoliberal, muitas economias africanas se recuperaram e poderão mesmo estar em via de um crescimento mais rápido e seguro, o que é necessário para reduzir os altos níveis de pobreza. As características comuns à todos os países africanos que registaram um crescimento continuado foram a maior integração à economia mundial, especialmente através do comércio para exportação, que explicam em os níveis agregados de eficiência e os volumes de investimento registados por esses países. O crescimento atual se deve às reformas aplicadas na última década, e a inflação, os défices orçamentais, as taxas de câmbio e os reembolsos da dívida são mais comportáveis; as economias são mais abertas ao comércio e às empresas privadas; melhor governabilidade, havendo uma luta mais intensa contra a corrupção. No entanto, a instabilidade do continente ainda modera as expectativas e os investimentos.

O principal fator para manter o crescimento e reduzir a instabilidade são as exportações. Portanto, é necessário baixar os custos de exportação (entre 18% e 35% dos custos totais), comparado com os custos indirectos na China – meramente 8% dos custos totais. Nesse sentido, as empresas africanas acabam perdendo competitividade no âmbito global, devido a custos indiretos mais elevados, o que inclui as infra-estruturas, um constrangimento emergente para o crescimento futuro.

Contexto doméstico:

A economia da República Democrática do Congo baseia-se na exploração de recursos minerais, sobretudo cobalto, cobre, diamantes, ouro e urânio, apesar do declínio experimentado pelo setor com os conflitos internos recentes. O país possui um grande potencial hidrelétrico, além de abundância de recursos madeireiros e agrícolas (café, cacau, dendê). Entre 1991 e 2001, a situação econômica deteriorou-se progressivamente, com índice negativo de crescimento anual médio do PIB – menos 6,7 %. Em 2002, registrou-se crescimento de 3%, em 2005, 6,5% e em 2006, 5,1%. No entanto, a desagregação da economia nos últimos anos tende a comprometer a confiabilidade dos dados macroeconômicos. Dessa forma, grande parte dos dados numéricos apresentados são meramente indicativos.

No ano 2000, a agricultura representava, 55% do PIB, uma grande evolução em relação aos 25% em 1985. Antes dominado por grandes multinacionais, dedicadas aos cultivos de cacau, café e dendê, o setor, agora, baseia-se cada vez mais na agricultura de subsistência. O setor industrial está decadente, havendo-se reduzido sua participação no PIB de 33%, em 1980, para 11% em 2000. Como resultado da falta de investimentos, escassez de divisas e baixa demanda, o que restou do parque industrial congolês opera com mais de 60% de capacidade ociosa.

Estima-se que aproximadamente 70% da força de trabalho estão desempregados, sobrevivendo graças ao setor informal da economia que, além da agricultura de subsistência, inclui toda uma gama de atividades nas áreas de comércio, transportes e serviços em geral. Em 2000, o setor de serviços teria respondido por 34% do PIB.

Registram-se alguns resultados positivos no tocante à taxa de inflação, que, de 659%, em 1996 e 515,8% em 2000, foi reduzida a 21,6% em 2005 e 13,1% em 2006 (segundo segundo dados do Banco Mundial, a República Democrática do Congoteria conseguido estabilizar sua economia de forma considerável).

Nessa análise do contexto econômico nacional, é impossível passar desapercebido pela retomada do diálogo com a comunidade financeira internacional, especialmente a partir da parcial pacificação do país em 2002. Doadores e instituições financeiras internacionais adotaram medidas favoráveis, entre as quais o desbloqueio de empréstimo de 454 milhões de dólares pelo Banco Mundial e a anulação de dívida de 4,64 bilhões de dólares por parte do Clube de Paris. A dívida externa da República Democrática do Congoseria da ordem de 11 bilhões de dólares, segundo dados de 2002. Tais fatos vão impactar diretamente no reequilíbrio e crescimento econômico.

No tocante ao intercâmbio comercial, as exportações teriam somado 1,4 bilhão de dólares, em 2002, contra importações de US$ 906 milhões. Os principais itens exportados compreendem diamantes, cobre, cobalto e café. As exportações destinam-se principalmente à Bélgica (64%), EUA (13%) e África (7,7%). Na pauta de importações sobressaem bens de consumo e de capital, alimentos e material de transporte, provenientes da África (42%), União Européia (41%) e Ásia (9,7%).

Assim, podemos ver que a “estabilização da guerra civil” e a adoção da cartilha neoliberal proposta pelo FMI trouxe avanços econômicos para diversos países, especialmente no Congo. No entanto, com estas medidas, o lado social fica negligenciado e continua pressionado. Gastos sociais não são o foco do FMI, o que complica a sua adoção no continente africano, repleto de conflitos étnicos, guerras civis e genocídios. No entanto, o crescimento econômico resultante dessas medidas restritivas pode ter um impacto positivo nas futuras ações sociais destes países. Atualmente ineficientes econômicamente, qualquer ação social com recursos governamentais mostra-se pouco eficaz ou completamente ineficiente, ao passo que a adoção das medidas neoliberais proporciona uma abertura econômica, seguida de aportes de investimentos estrangeiros, gerando um desenvolvimento de todo o país que passa a poder proporcionar benefícios sociais à população.


Bibliografia:

terça-feira, novembro 27, 2007

Panorama Geral comparativo entre Lula e Geisel

Luiz Inácio Lula da Silva iniciou seu segundo mandato tentando definir seu lugar na história. Desde a campanha eleitoral de 2002, Lula tem a obsessão de se comparar aos seus antecessores, sendo os mais citados o Getúlio Vargas e o Juscelino Kubitschek. Ao se comparar com Getúlio, Lula visa reconhecimento como favorecedor das classes mais baixas, como consequência do Bolsa-Família, enquanto Vargas criou as leis trabalhistas e o salário mínimo, sendo reconhecidamente o "pai dos pobres". Quanto a comparação com JK, Lula visa ser reconhecido pelo crescimento econômico, muito embora os “50 anos em 5" de Juscelino pouco tenha haver com as baixas médias de crescimento do Governo Lula. Entretanto, o atual presidente conseguiu atingir uma estabilidade econômica que há algum tempo não se via. Como as conquistas sociais do governo Lula se devem em parte à estabilidade econômica obtida no período de Fernando Henrique Cardoso e à herança dos programas sociais tucanos, Lula precisa criar e pôr em prática uma agenda de crescimento econômico para ser lembrado como governante que deixou marca própria.

Comparações também foram realizadas quanto ao "desenvolvimentismo", visto que Lula, nos últimos tempos, acrescentou um terceiro nome a seu panteão de heróis ex-presidentes: Ernesto Geisel, o quarto general do regime militar, que governou o Brasil de 1974 a 1979. "Ele foi o último presidente brasileiro a fazer investimentos em infra-estrutura", disse Lula em entrevistas. Segundo seus assessores mais próximos, o presidente diz que gostaria de passar à história como um misto de Getúlio, JK e Geisel.

Para entender o governo Lula, é necessário fazer distinção clara entre "crescimento econômico" e "desenvolvimentismo". Crescimento econômico diz respeito ao crescimento percentual do PIB, que depende da industrialização, do comércio e da venda de serviços. Já o “desenvolvimentismo” cabe a um período histórico definido do Brasil, entre as décadas de 30 e 70. Período que tem início na "era Vargas", em que o Estado tinha um papel decisivo na economia brasileira, exercido pelas estatais e pelo financiamento, por meio de bancos de fomento, de grandes setores privados - caso da indústria automobilística do período de Juscelino Kubitschek. Tal política teve duas conseqüências: promover surtos de crescimento econômico, como o Milagre, concebido durante o governo Médici, em que a economia brasileira se expandiu a uma taxa média de 11,2% ao ano. Outra conseqüência foi criar endividamento, inflação e, principalmente, concentração de renda. A iniqüidade social brasileira se aprofundou durante a era desenvolvimentista, uma vez que os investimentos eram feitos diretamente nas atividades econômicas e não no social. A experiência desenvolvimentista não pode ser repetida, visto que atualmente não há facilidade para se endividar. Os governos estão sob vigília da opinião pública, amarrados por leis como a de Responsabilidade Fiscal, além de monitorados pelas instituições financeiras internacionais.

Restringindo-me a uma comparação mais geral quanto ao panorama contextual internacional, proponho-me a fazer uma analise comparativa de como o Governo Geisel e o Governo Lula vêem os diferentes, mas, de certa forma similares, contextos e como agem na defesa do interesse nacional brasileiro. Nesse sentido, três pontos de contato serão ressaltados: o Projeto Nuclear Brasileiro, o alinhamento com países emergentes (foco nas relações Sul-Sul) e o incentivo à utilização de fontes alternativas de energia.

A historiografia faz uma distinção bem simples entre estes governos: o regime. É fato que atuam sob regimes distintos, uma vez que Geisel fez parte do regime militar e Lula do regime democrático. Aqui não cabe fazer julgamento de valor sobre estes, simplesmente partir deste pressuposto para entender e analisar as diferenças em suas políticas domésticas e, principalmente, externas.

Ernesto Geisel teve de conviver com um contexto doméstico bastante conturbado, de fragmentação das forças armadas e de início de abertura política, em que havia uma dependência total do capital externo para o desenvolvimento, o que demonstrava sua fragilidade econômica.

O contexto internacional também não é dos mais favoráveis. O Primeiro Choque do Petróleo, em 1973, levou ao fim do “Milagre Econômico”, o que até então era a grande fonte de legitimidade do governo militar. Há ainda um relativo declínio na hegemonia dos EUA, sintetizada nos Acordos de Paris (pós-Guerra do Vietnã) e com o “entendimento” entre EUA e URSS, em que há uma diluição da bipolaridade e a ascensão de novos Estados gerando novas demandas.

A ascensão de Carter em 1977 também coloca muita pressão sobre o Brasil, já que este defendia intensamente os Direitos Humanos, não tão defendidos pelo regime militar. É um momento único na história, em que há tensão de fato entre Brasil e EUA, forçando o abandono da política externa americanista e uma abordagem cada vez mais universalista, do “Pragmatismo Responsável”. Os imperativos econômicos, principalmente no que tange o setor energético (o Brasil importava quase 80% do petróleo que consumia) e a balança de pagamentos deficitária após anos de crescimento econômico também são fatores da mudança na natureza das relações com os EUA. Ambos os países passam a se preocupar mais na exploração das novas oportunidades externas.

Dentre as medidas de política externa tomadas no governo Geisel, podemos ressaltar, além do pragmatismo responsável e o relativo afastamento dos EUA, o reconhecimento da independência de Angola em 1974, a qual continha um apêlo social, a aproximação com o Oriente Médio e o restabelecimento de relações diplomáticas com a China. Ao mesmo tempo em que estabelecia laços de amizade e cooperação com governos comunistas de países do chamado Terceiro Mundo, o governo Geisel perseguia com voracidade os militantes dos partidos comunistas, em território doméstico. Apesar de aparentemente paradoxal, tais medidas eram completamente aceitáveis, explicáveis e desejáveis segundo o pragmatismo responsável. No que tange a África, o Brasil sempre se sentiu como herdeiro português e sempre manteve laços fortes com o continente.

O programa nuclear brasileiro em cooperação com a Alemanha foi assinado também nesse contexto de procura à alternativas às relações com os Estados Unidos, bastante abaladas pela ação do Governo Carter de defesa dos direitos humanos, Crise do Petróleo, dentre outras. Esta incessante busca foi a matriz ideológica que marcou a atuação do governo Geisel na política externa: um alinhamento com países emergentes, preferência para as relações Sul-Sul, e um certo nacionalismo antiamericano, que acresceu na recusa dos militares de assinar o TNP.

Constrangido pelo contexto da crise internacional do petróleo, embora tenha declarado, em 1974, que “o Brasil era uma ilha de tranqüilidade num mar de turbulências”, Geisel deu início ao Programa Nacional do Álcool ou Proálcool, em novembro de 1975, com o objetivo de estimular a produção do álcool, visando o atendimento das necessidades do mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos. Por meio deste, estipulou-se que a produção de álcool se originaria da cana-de-açúcar, mandioca e milho em resposta ao contexto externo.

Já o governo Lula, vive também um contexto doméstico bastante conturbado, de escândalos políticos, forte oposição partidária, necessidade de reformas, e, principalmente de corrupção. Diferentemente do Geisel, Lula não tem participado como um líder atuante, presente e que passasse confiança à população e a investidores, tendo se escondido em tempos de crise política até que a situação fosse estabilizada. Outro contraste no âmbito doméstico deve-se a estabilidade econômica, pouco abalada por escândalos políticos.

O contexto internacional mostra-se, atualmente, mais favorável. A participação brasileira em foros multilaterais é intensa. A abertura política e econômica brasileira tem um papel determinante neste ponto e, é inegável, a influente atuação institucional-pragmática do governo Fernando Henrique. A relação entre Brasil e Estados Unidos não é de um alinhamento automático, mas também não é conflitiva. A boa relação interpessoal entre o Presidente George W. Bush e o Presidente Lula colabora com a manutenção desta. Hoje, além de defensor, o Brasil coloca-se como propagador dos Direitos Humanos, inclusive constitucionalmente. No que tange os imperativos econômicos, principalmente no setor energético, o Brasil tem a capacidade de suprir domesticamente a sua demanda por petróleo. Entretanto, as ameaças atualmente são diferentes: o esgotamento da principal matriz energética.

Trinta anos após o início do Proálcool, o Brasil vive agora uma nova expansão dos canaviais com o objetivo de oferecer o combustível, em grande escala, como forma de energia alternativa ao petróleo, que, segundo a British Petroleum, em seu estudo Revisão, Estatística de Energia Mundial de 2004, afirma que as reservas mundiais de petróleo durariam em torno de 41 anos, as de gás natural, 67 anos, e as reservas brasileiras, 18 anos. A nova escalada, porém, não é um movimento comandado pelo governo, como a ocorrida no final da década de 70, quando o Brasil encontrou no álcool a solução para enfrentar o aumento abrupto dos preços do petróleo que importava e que foi abandonada após a queda de preços do mesmo. Embora não seja um movimento orquestrado, o Presidente Lula coloca-se como o principal difundidor, propagador e “evangelizador” de tal fonte energética, como colocado pelo Presidente Norte-americano George W. Bush (O GLOBO 25/09/2007), uma vez que o Brasil conquistou uma grande vantagem comparativa devido a sua indústria sucro-alcooleira e a sua experiência com o proálcool. Nessa nova fase é importante frisar o fato de que a corrida para ampliar unidades e construir novas usinas é movida por decisões da iniciativa privada, convicta de que o álcool terá, a partir de agora, um papel cada vez mais importante como combustível, no Brasil e no mundo.

A retomada do projeto nuclear brasileiro se deu com a promessa do financiamento governamental para um projeto do submarino atômico da Marinha, além do já consolidado enriquecimento de urânio em Aramar, com tecnologia nacional de ponta, a construção da usina nuclear de Angra III e a tentativa de revitalizar o complexo de Angra. Essa postura, acrescido da proximidade com a Venezuela, que já propôs um programa nuclear conjunto, e com o Irã, sendo que os Estados Unidos estão pressionando a Petrobrás para cortar negócios devido ao programa nuclear militarista, pode levar à idéia de que o governo brasileiro tenha a intenção de retomar um projeto com fins militares, que chegou a ser iniciado secretamente durante o período militar e teve fim simbólico no governo Collor. Entretanto, não acredita-se que isso venha a tornar-se realidade, uma vez que o Brasil submete-se tanto as normas do TNP e AIEA, quanto a fiscalização bilateral com a Argentina.

No que tange a cooperação internacional, o governo Lula tem uma abordagem diferenciada. Certos críticos têm uma visão maniqueísta, em que ou se abraça o Norte ou abraça o Sul, como se fossem excludentes. Na verdade nossas relações com o Norte permanecem constantes e, ao que parece, atingiram um teto, de certa forma. Como maior exemplo da relação com o Norte temos as negociações problemáticas da Rodada de Doha (abertura do mercado de serviços, diminuição das taxas de importação de produtos industrializados, subsídios, apoio interno, agricultura, TRIPS, ets), tendo travado, inclusive, as negociações entre Mercosul e União Européia. Entretanto, verifica-se hoje na política externa brasileira um apego à relações Sul-Sul, sendo passível de citação a criação do IBAS (Índia – Brasil – África do Sul, com objetivo primordial da busca por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, mas atualmente sendo estendida), criação do G-4, participação no G-20, liderança na missão de paz no Haiti, viagens de representação presidencial a África, em que diversos países foram visitados, além de certa prioridade ao Mercosul. O governo Lula tem adotado uma política regional diferenciada, tendo sido mais complacente nesse fórum multilateral, em que tenta garantir o apoio da Argentina e incluir Paraguai e Uruguai qualitativamente. Era, ainda, um ponto controverso a ideía de América do Sul como continente, sendo que finalmente, no governo Lula, o Brasil passou a incluir de fato a região como um todo e não somente o cone sul. Atualmente, o continente ocupa um papel importantíssimo na pauta de exportações brasileira, se aproximando das exportações para os Estados Unidos, sendo ainda mais preponderante quando se pensa no contexto da América Latina, uma vez que as relações comerciais entre Brasil e México tem um peso enorme nas pautas de ambos os países.

Segundo os fatos e comparações expostas, conclui-se que, embora abordem temas semelhantes e comparáveis, os contextos doméstico e internacional, proporcionam constrangimentos e respostas diferentes nos governos Lula e Geisel. O atual Presidente já tem sua marca na política externa brasileira, entretanto, ainda carece e busca reconhecimento no âmbito doméstico. Lula, claramente, tem o fim de legitimar seus atos políticos com as comparações que faz entre seu governo e governos passados, no entanto, devemos entender e resguardar as devidas diferenças históricas, além de torcer para que todas as comparações feitas entre os governos sejam positivas e que não cometam-se mais os mesmos erros cometidos no passado.

BIBLIOGRAFIA:

1. JAMPA, Hélio. O último zurro de Merval. Disponível em . Acesso em 09 nov. 2007.
2. FEUERWERKER, Alon. Reconhecer os fatos do mundo. Disponível em . Acesso em 09 nov. 2007.
3. FEUERWERKER, Alon. Trinta anos do Pacote de Abril. Cujo espírito está vivo, nas propostas de reforma política. Disponível em . Acesso em 09 nov. 2007.
4. HIPPOLITO, Lúcia. Lula, Geisel e Fernando Henrique. Disponível em . Acesso em 09 nov. 2007.
5. TRAUMANN, Thomas. Apostas para o futuro: O Brasil tem de crescer – mas não com fórmulas mágicas e perigosas. Este é o grande desafio de Lula no segundo mandato. Disponível em . Acesso em 09 nov. 2007.
6. DRUMMOND, Aristóteles. Irresistível tentação de comparar. Disponível em . Acesso em 09 nov. 2007.
7. Nelson. CARTA ABERTA A REGINA DUARTE. Disponível em . Acesso em 09 nov. 2007.
8. PEREIRA, Merval. 30 Anos depois. O Globo, Rio de Janeiro, p. 3, 25 de set. 2007.
9. HABERT, Nadine. A década de 70: apogeu e crise da ditadura militar brasileira. São Paulo: Ática, 1992.

sexta-feira, novembro 16, 2007

A responsabilidade do Estado na implementação de políticas públicas de saúde

Nesta breve síntese de pensamentos não me cabe esgotar o polêmico tema da responsabilidade estatal quanto a implementação de políticas públicas de saúde, assim como não tenho a pretensão de que o artigo expresse unicamente as minhas idéias. Defenderei, portanto, um ponto de vista liberal, no qual qualquer decisão cabe a cada pessoa de acordo com as leis do livre mercado.

Para melhor compreensão e avaliação das políticas públicas sociais implementadas por um governo, é fundamental a compreensão da concepção de Estado e de política social que sustentam tais ações e programas de intervenção. É valido ressaltar a diferença existente entre Estado e Governo, sendo o primeiro um conjunto de instituições permanentes que possibilitam a atuação do governo, sendo o último um conjunto de projetos que parte da sociedade.
A doutrina liberal desenvolveu e difundiu o ideário do Estado limitado, que compreende tanto o poder, quanto as funções estatais. A noção de Estado mínimo constituiu a matriz intelectual do capitalismo e sustentou a maximização da liberdade individual e a igualdade formal, em uma sociedade cuja atividade econômica deveria ser dominada pela livre iniciativa. Em tais circunstâncias, o Estado teria por funções proteger a propriedade privada e garantir o livre trânsito das forças econômicas¹. O Estado tem a única imcumbência regulatória e não interventora, entretanto é possível atuar coercitivamente para reprimir eventuais infrações ou ameaças aos direitos supracitados, em nome da maior eficiência econômica já discutida e fundamentada por autores clássicos como Adam Smith, David Ricardo, dentre outros.
Com o passar do tempo, outras teorias econômicas surgiram, como é o exemplo da Keynesiana, caracterizada por políticas estatais intervencionistas e de distribuição de renda. Era a tentativa de derrubar o conceito de Estado mínimo, substituindo-o pelo Estado de bem-estar-social, o qual pode ser definido como “Estado que garante tipos mínimos de renda, alimentação, saúde, habitação, educação, assegurados a todo o cidadão, não como caridade, mas como direito político”².

Para Alessandro da Silva, o Estado de bem-estar-social é a materialização da democracia:

“Observe-se que foi somente com o Estado de bem-estar-social que houve a plena realização da democracia; regime que se caracteriza pela participação coletiva na tomada de decisões, a partir de um conjunto de regras pré-determinadas.

O aperfeiçoamento do regime democrático demanda a ampliação da participação coletiva, o que somente pode ser obtido por meio da promoção da igualdade jurídica, social e econômica, culminando na “democracia substancial”[6]. Contentar-se com a democracia meramente formal é ser conivente com um regime que mascara as relações de exploração e a concentração de poder, para o qual a denominação mais adequada é ‘democrisia’.”³

A minha função é mostrar que o papel interventor do Estado do bem-estar-social é prejudicial à população, uma vez que os torna dependentes do aparato e investimentos estatais e que, definitivamente, não é o melhor alocador de recursos. O Estado é utilizado por Governos, temporais, que se utilizam das instituições estatais para promover políticas públicas em defesa de seus interesses ou de grupos aliados.

Os modelos teóricos sugerem que o liberalismo evita as perdas de eficiência associadas ao intervencionismo. Muitos economistas acreditam que o liberalismo produz ganhos que vão além da eliminação das distorções de produção e consumo. E, mesmo entre os economistas que acreditam que o liberalismo seja uma política não tão perfeita, muitos crêem que ele é melhor que qualquer outra política governamental, visto que o governo poderá investir os escassos recursos do Estado em projetos não tão eficientes ou utilizar destes para fins de seu interesse e não o interesse comum. Em suma, investimentos governamentais podem ser utilizados, principalmente, para proteger a renda e status de determinados grupos de interesse.
Portanto, para a população, é preferível que o Estado, representado por seu governo, garanta somente “a liberdade contratual para as pessoas, assim como a ordem, a segurança, as liberdades individuais e o direito à propriedade, não lhe sendo demandada a resolução de necessidades individuais de natureza social.”4 Desta forma, é preferível que “a assistência à saúde deva ser tratada de maneira semelhante a outros bens e serviços regidos pelas leis do livre mercado, pois este seria o garante da adequação das necessidades de saúde à oferta de serviços. Aceita-se a presença de formas organizativas de serviços de saúde, baseados no seguro-saúde individual e na capacidade de pagamento pelo atendimento das necessidades de atenção à saúde, não cabendo ao poder estatal, em nome do bem da coletividade, impor aos indivíduos contribuições obrigatórias para um sistema público de saúde, pois assim se estaria violando a decisão autônoma individual de escolha. ”4

Não cabe ao Governo, protegido pelo aparato estatal, decidir que alguns renunciem a uma parte de seus recursos para que outros possam obtê-lo. A justa distribuição não é função do Estado, o qual mostra-se como um mal gerenciador e alocador de recursos. Além disso, é inviável que o Estado se responsabilize pelas necessidades individuais de saúde, visto que esse escopo é demasiadamente largo e que varia de indivíduo para indivíduo.

Cabe ao Governo, na forma de Estado, permitir ganhos de economias de escala, com a proliferação de empresas de saúde em mercados domésticos restritos e em mercados externos também. Além disso, cabe permitir que as empresas procurem caminhos próprios, o que oferece mais oportunidades para aprendizagem e inovações do que um sistema intervencionista, no qual o governo é responsável pelo investimento. Dessa forma, o Estado tem uma função regulatória, atuando para o bem-estar da coletividade, como a vigilância sanitária e epidemiológica, não cabendo a assistência médica individual, sendo esta, interesse e responsabilidade individual.

Os investimentos privados, a partir da livre concorrência, podem proporcionar uma melhor qualidade dos serviços, inovações tecnológicas, melhor atendimento e melhor qualificação dos médicos, além da queda do custo unitário do serviço, proporcionando assim, uma melhoria em todo o sistema de saúde, o qual é, notadamente, precário.

Entendo que aqui caiba a crítica de que o setor da saúde é fundamental às necessidades de sobrevivência humana, entretanto, uma maior eficiência desse pode ser alcançado a partir da utilização do livre mercado. Como exemplo similar, podemos utilizar as redes de telefonia e de energia elétrica, atualmente indispensáveis ao desenvolvimento humano e ao nível de qualidade de vida. São serviços que, no brasil, após a privatização, se tornaram mais eficientes e, nem por isso, se tornaram indisponíveis à população. Pelo contrario, criaram e desenvolveram diversos projetos que visam levar a tecnologia e o desenvolvimento à todos.

terça-feira, outubro 16, 2007

Brazil’s role in the world

Artigo escrito em resposta a questionamentos de um colega americano.

“I can tell you that here in the U. S., many people consider Brazil not only to be a rapidly rising economic power, but a model for the rest of South America. I would love to hear more about your ideas about that.”


I believe that all comes to one question: “Does economic growth comes with welfare? Does economic growth represent anything to the population? Does the statistical economic growth affects peoples lives in such a way that they can really feel it?”

We have to think about what is being said about Brazil’s growth: Is Brazil really growing rapidly? I am not too sure about this. In fact, last year we made only + 2.9% (in relation to 2005) and + 2.3% in 2005 (comparing to 2004). We were second worst in Latin America and for the 10 last years our GDP has grown under the global average.

We can compare with countries like China (I know that it’s different over there) and also Chile, South American. Chile’s growth has been constantly high. Most of it can be explained by their commercial politics and specially because their economy size is smaller than ours. The bigger the economy, the harder it is to change things. Venezuela grew 10% and Argentina 8.5%, but their inflation also grew a lot: 13,4% and 8% respectively. At least inflation is under control here.

The key factor, in fact, is not the economical side, it is political. Since the military governments, Brazilian politicians promise/say that Brazil is the country of the future. We still believe it and are still waiting. But how long will we have to wait? They/we expect to become a developed country too fast, as if we went to bed being poor and wake up millionaire. What are the odds? The population is not worried about growing consistently; we just want to be big.

It is imperative to talk about the Brazilian political structure and situation. When in 2003 Lula, a machinist, became the president (the first “leftist” elected by the population – you can think of that as a vote for the change), a sense of euphoria and hope aroused. We had thought that he would solve all our problems – that’s also a problem here: we do not vote for a political party or the ideals of each party, we vote for the person. It is obvious that he didn’t make it and, for that, is still being criticized as if he had betrayed his own people. He is criticized for not making any critical changes, only maintaining the liberal political system. We also have to talk about corruption in the government, which has been discovered by the media and made his government popularity decrease. There are Ministers under investigations on it. In the same direction we have to talk about violence, which is also increasing. The social gap is something impressive. In the same neighborhood we can find mansions and shacks. The favelas are growing. PUC-Rio, which is one of the best and most expensive Universities in Rio is right next to the “Rocinha” favela, the biggest in Latin America (about 1 million people live there).

The political factor is something to be considered overseas as well. Lula has been to a few “under development” countries, in Africa specially, creating important alliances and developing the South-South relation, which is really important if we are to assume a leadership in the world. Of course, the “Itamaraty”, Ministry of External Relations’ role is something to consider. Being apolitical, stable and not changing the Brazilian’s diplomatic course of action over the years and over the governments gives us much more of an international credit.

In my opinion, and I have to go deeper on this subject, the desire of being big and relevant to the world comes from colonization. We were the only “nation” in South America that spoke Portuguese. Then, when the Portuguese Court came to Brazil (running away from the French Revolution), we became an “empire”. We were seen as different from the other countries over here, because we were a bit better than a colony (Monarchy). From then on, Brazil thinks of itself as better than it’s neighbors. Nowadays, our size, “stability”, political action, liberal system, respect to the international treaties, respect to human rights, controlled inflation, good place for investments, etc makes us a potential regional leader.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Resenha Filme: Boa Noite, Boa Sorte

Em uma narrativa em tom de documentário, o filme Boa noite e Boa sorte fala da trajetória do jornalista da CBS, Ed Murrows, o qual causa grande impacto na mídia americana ao confrontar e questionar os métodos do Senador Joseph McCarthy, o qual perseguiu a tudo e a todos que pudessem ter algum contato com o comunismo e com a política de esquerda.

Durante os seus dez anos no Senado, McCarthy tornou-se célebre pelas investigações agressivas contra o governo federal dos EUA e pela campanha contra a política esquerdista. O período entre 1950 e 1956 ficou conhecido como o "Terror vermelho" (Red Scare), ou também como Macartismo. Todos aqueles que fossem suspeitos de simpatia com o comunismo tornaram-se objeto de investigações. Fossem pessoas da mídia, do cinema, do governo ou do exército, todos seriam e, na realidade, foram acusados de espionagem a mando da URSS.

O termo "Macartismo" é desde então sinônimo de atividades governamentais visando a reduzir a expressão de opiniões políticas ou sociais julgadas desfavoráveis, limitando para isso os direitos civis sob pretexto de segurança nacional.

O longa não só documenta este importante período histórico para os Estados Unidos, como, de maneira muito versátil, recria os estúdios e bastidores do jornalismo na rede de televisão CBS durante os anos 1950 em Nova York. Naquela época, os homens usavam camisetas brancas e ternos escuros, as mulheres serviam o café junto com os jornais matutinos e o fumo era ostensivamente difundido. A atuação da mídia é mostrada a partir da narração do dia-a-dia de uma redação de jornal com seus altos, baixos e preços pagos pelos jornalistas para desenvolver o real e bom jornalismo. Vemos uma aula de jornalismo, em todas as nuances, sem romantizar o que um jornalista real deve fazer e como cumprir seu dever de reportar sempre a verdade. Percebe-se a clara crítica sobre a mídia massificada e como é fácil se sentir acuado diante da artilharia de alguém com poder. O Jornalista Ed Murrows foi um dos poucos homens que ousaram enfrentar o Senador McCarthy e, mais que isso, enfrentar todo o sistema de funcionamento da mídia. Apesar do lado político do fato, o filme tenta mostrar que o bom repórter tem que ir a fundo em suas indagações, mesmo que pareça estar lutando contra o mundo.

A voz de Murrows fez com que outros se indignassem com a perseguição descabida de McCarthy, o que levou o próprio Senador norte-americano a ter um Comitê julgando suas ações desenfreadas.

O próprio título já traz uma crítica politizada, uma vez que a expressão usada por Ed Murrows foi cunhada durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto reportava os acontecimentos, pois não se sabia o que se poderia acontecer entre a noite e a manhã. Sempre desejava boa-noite e boa-sorte aos membros da comunidade.
É cabível ressaltar que, historicamente, passava-se pelo período da Bipolaridade (1947-1955), principalmente durante o governo Trumman. A URSS era vista como uma forma de governo inconciliável com o sistema capitalista mundial. Não estaria disposta a abrir mercados, a participar do sistema internacional de forma colaborativa, a abrir mão de áreas de influência e permitir a liberdade dos povos. Ou seja, não estava em conformidade com os ideais Norte-Americanos.
Entretanto, pouco antes prevalecia o poderio militar dos EUA, visto que a URSS ainda não possuia uma bomba nuclear, estava em um nível ainda não tão avançado de industrialização e sua agricultura não era tão abrangente e estável quanto a americana. A partir de 1949 a situação muda: A URSS desenvolve a sua primeira bomba nuclear. Outros fatos como a Crise de Berlin, a Guerra da Coréia e a Revolução Chinesa tornam o momento muito instável e tenso, logo suscetível a ações extremistas como as do Senador McCarthy.

terça-feira, março 06, 2007

Brasileño – Latino-Americano soy?

Shakespeare já dizia: “Ser ou não ser? Eis a questão.”.

Afinal, o que é ser Latino-Americano? O que essas duas palavras querem dizer? Do que se trata o conceito de América Latina? Essas são questões fundamentais para se definir ou confundir um conceito tão amplamente reconhecido.

A origem da palavra “América” tem uma teoria bem aceita: O “Novo mundo” foi nomeado em homenagem à Américo Vespúcio, o qual esteve no continente por quatro vezes. Ele foi o primeiro a dizer que as novas terras eram de fato um novo continente. Seu nome em latim e no sexo feminino (fazendo a correspondência com os outros continentes – África, Europa, Ásia) deu origem ao nome “América”.

Latina(o) deveu-se à colonização Portuguesa e Espanhola, países nos quais se fala linguas derivadas do latim, herança do Império Romano.

A América-Latina compreende a faixa de terra ao Sul dos Estados Unidos (do México ao sul da América do Sul). As linguas faladas, salvo algumas exceções como as Guianas e Belize, são o Espanhol e o Português, herdados de nossas antigas metrópoles.

Existem diversos laços culturais comuns. A história parece fazer questão de aproximar esses países e querer lhes dar razões para sentir-se semelhantes. Revoluções, independências, democratizações, redemocratizações, movimentos de libertação nacional, etc ocorrem todos como que simultaneamente. O atraso no desenvolvimento desses países e a realidade sócio-econômica complicada também são fatores que tendem a tornar o continente em algo homogêneo. A religião também é um fator que nos aproxima de nossos vizinhos. A tão criticada e ao mesmo tempo badalada Igreja Católica.

O termo América-Latina surgiu na metade do século XIX, cunhada pelo Imperador Francês Napoleão III. A expressão já surge cheia de conotações políticas, o que irá se mostrar uma normalidade ao longo da história. O objetivo de Napoleão III era criar um conceito que aproximasse a sua França do novo continente, visto que se vivia na época do Imperialismo. O Imperador não queria colocar suas garrinhas somente sobre a África e a Ásia, mas também queria terras na América. Por isso, cria esse conceito em oposição a política (também Imperialista) Norte-Americana, de posterior afirmação da América para os Americanos [do norte].

Portanto, a junção de toda essa região em um único pacotão, foi feito, a princípio, de fora para dentro. Visava-se criar uma política externa comum para a região, a qual não era e nunca foi de grande importância global. O conceito sempre foi utilizado de forma a legitimar certas idéias e pretensões de dominação.

Entretanto, o conceito também é algo que hoje e já há algum tempo é disseminado de “dentro para fora”. Fala-se muito em união Latino-Americana, bolivarianismo, identidade latina, etc. Busca-se alguma identidade comum que nos uma em detrimento de outras nações. Afinal, todos passamos por momentos históricos muito semelhantes...

Enfim, o debate aqui se torna Homogeneidade x Diversidade. O que somos nós Latino-Americanos?

Embora partilhemos laços e heranças comuns, a chamada América Latina para ser considerada coesa, deve excluir especificidades fundamentais. Na verdade, nossas especificidades podem ser maiores do que nossas características comuns. O grave problema é que pouco nos conhecemos entre nós, acabamos nutrindo graves rivalidades.

Conhecemos mais sobre a história da Europa do que a história da Argentina. Conhecemos mais a Revolução Francesa do que a Revolução Mexicana. Visitamos mais os EUA do que o Peru. Se realmente visamos algum tipo de integração Latino-Americana, temos que nos conscientizar e conhecer mais dos nossos vizinhos. Quando não se conhece algo, a primeira atitude é sempre a negação. Fica aqui a solução: Conhecer para integrar.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Iraque: O Novo Vietnã

A história se repete. Existem teorias que explicam a história do mundo como grandes ciclos que se repete, adequando-se as especificidades de seu tempo. O próprio Marx explicava assim a evolução econômica e social.

Porque esse meu comentário?

Pois é claro e evidente que os EUA estão com um pé atolado no “novo Vietnã”. A cada dia que passa, Iraque é um peso maior sobre o governo americano. O efeito CNN que exibe as atrocidades da guerra coloca a opinião pública contra a guerra, provando a teoria de que as democracias seriam menos tendenciosas a ir à guerra.

Hoje, o alto escalão dos exércitos americanos começam a esquematizar uma retirada Norte-americana do Iraque, preparando os iraquianos para que esses possam manter a democracia e combater os insurgentes por si só. De forma extremamente semelhante como planejavam sair do Vietnã, deixando todo o problema para um governo fraco, de coalizões tênues e totalmente dependente dos EUA.

Quando convém aos vanguardistas da democracia no mundo impor a democracia, eles vão e a impõe. Quando os gastos começam a ser muito honerosos à sociedade e ao governo, eles se retiram.

Mas, como nada do que foi será do jeito que já foi um dia e como os ciclos se adaptam às especificidades do seu tempo, no Iraque o maior interesse por trás da invasão era a influência na região, os valiosos poços de petróleo iraquianos e a presença do “chato” do Saddam Hussain, outrora apoiado pelos mesmos. Já no Vietnã a invasão foi crucial para manter a influência na Indochina e garantir que o avanço comunista não tornasse toda a Ásia vermelha.

Errar é humano, persistir no erro é burrice. Um Estado como os EUA, potência global em todos os aspectos não pode se dar ao luxo de cometer o mesmo erro duas vezes, assim como não pode simplesmente intervir em qualquer outro Estado quando lhe convir. Parece que um conceito bem simples é ignorado por eles: Soberania.

Então, que continuem as guerrilhas, que os EUA continuem a perder rios de dinheiro com essas guerras infundadas. Quem sabe assim um dia teremos algo semelhante à paz desejada por todos, ou, para os mais pessimistas, ao menos teremos alguns filmes de guerra como o Rambo surgindo para elevar a moral americana abalada.