Currency Crisis - Modelos de 3 Gerações de Crises Monetárias.
O Modelo Canônico tem sua origem com Salant (1970), em que havia uma preocupação com a estabilização via agências internacionais, dos preços das commoditties, o que levava a uma especulação devastadora. Tal modelo foi posteriormente aperfeiçoado por Krugman (1979) e Garber (1980). O fundamental nessas abordagens era que as crises cambiais em uma economia com perfeita mobilidade de capitais eram resultado de inconsistências entre as políticas domésticas (déficits orçamentários financiados por imposto inflacionário) e a tentativa de manutenção de uma taxa de câmbio fixa, uma vez que o governo possui um estoque limitado de reservas para manter o câmbio.
A tentativa de financiamento da dívida pública via criação de uma base monetária leva a elevação do “shadow-price” (entendido como o preço esperado pelos agentes) da divisa doméstica, que por sua vez, gerava uma redução progressiva das reservas internacionais. De maneira geral, quando este é mais elevado do que a taxa de câmbio, esperam-se ataques especulativos. É importante ressaltar, no entanto, que a origem da crise externa advém do desequilíbrio do setor público que, ao monetizar um déficit fiscal permanente, produz ondas de ataques especulativos (entendidos como: fuga de capitais + desvalorização do câmbio + crise do balanço de pagamentos, Saldo em Transações Correntes.). Assim sendo, neste modelo, os Bancos Centrais têm um papel totalmente passivo e mecanizado pois apenas intervém no mercado para defender a taxa de câmbio. Fundamental nesse modelo é que a deterioração dos fundamentos macroeconômicos é condição necessária e suficiente para a ocorrência dos ataques especulativos.
O marco inicial dos modelos de 2ª Geração é Obstfeld (1990). Os Modelos descrevem um trade-off (defender ou não a taxa de câmbio) do governo que consiste entre flexibilidade macroeconômica de curto prazo e credibilidade da política econômica em longo prazo. Decidem se priorizam o controle da inflação ou uma menor taxa de desemprego. Esses modelos trazem uma sensação de “inevitabilidade” das crises pelas afirmações sobre a presença de “sunspots” (eventos circunstanciais que podem alterar o regime de câmbio), independentemente da solidez dos fundamentos macroeconômicos e do consenso comportamental dos players do mercado. Nesse sentido, a mudança do regime cambial assume forma de profecia auto-realizável, uma vez que a deterioração dos fundamentos macro é condição necessária mas não suficiente para a ocorrência de ataques especulativos (a condição suficiente é a existência de “sunspots”). Defender a paridade do câmbio pode ser muito dispendioso, o que leva a um aumento da taxa de juros elevada. Os especuladores tentam antecipar-se à desvalorização, conduzindo a economia para uma desvalorização antes que os fundamentos macro realmente forcem a deterioração do câmbio, que leva ao colapso da moeda.
Nos Modelos de 3ª Geração de Calvo (1996) e Krugman (1998), a crise cambial é parte integrante de uma crise geral da economia sendo pré-anunciada por crises financeiras. A crise externa está relacionada a ação do setor bancário e instituições financeiras em um contexto de desregulamentação do sistema financeiro (cessão desenfreada de crédito e alavancagem do setor privado financeiro e não-financeiro em tomar recursos do mercado para compor seus portfólios coberto pela ação do BACEN) e garantias para os empréstimos concedidos ao setor privado (criando um moral hazard gerado pelo BACEN). A crise se dá a partir de uma crescente fragilidade do sistema bancário resultante da deterioração dos créditos, levando a ataques especulativos. O aumento da oferta de moeda valida a corrida especulativa contra a moeda doméstica, levando ao pânico financeiro e a consequente perda de reservas internacionais. A crise cambial é definida como consequência de uma profecia auto-realizada, causada por um pessimismo que se confirma e por políticas econômicas inconsistentes com a manutenção do câmbio fixo, em longo prazo. Problemas de fundamentos macro (nível de reservas/situação fiscal do governo/fragilidade financeira) podem levar a um ataque especulativo. Nesse sentido entendemos o contágio como uma brusca deflação de ativos em um determinado mercado provocando a venda de ativos em outra praça financeira para compensar perdas de portfólio dos mega investidores. Isso só é possível devido à alta mobilidade de capitais, com o aumento das transações especulativas em moeda estrangeira. Os fluxos de capital podem ter uma ação disruptiva sobre países e setores canônicos, além de comprometer a autonomia das políticas macrodomésticas. Esse é o “Dilema da Globalização Financeira”: enquanto amplia oportunidades de financiamento e investimento com a diversificação dos instrumentos financeiros (securitização e derivativos), pode gerar efeitos econômicos adversos (extrema volatilidade do câmbio – entrada e saída muito rápida de capitais) que podem levar ao colapso das decisões de investimento. Nesse modelo os ataques especulativos são resultado das ações dos global players que utilizam grande quantia de recursos para adquirir opções e futuros de câmbio a uma taxa central mais baixa do que esperam para um futuro próximo. Tais “ataques” podem começar assim que os especuladores acreditem que o governo não seja capaz de dar suporte à demanda total de convers~ao de ativos em moeda estrangeira. (taxa de câmbio+expectativa de desvalorização/valorização cambial).
Os processos especulativos se dão quando ativos financeiros sub-valorizados sofrem um choque de demanda, levando a uma espiral altista de preços (inflação de ativos) que tende a se realimentar, valorizando a moeda doméstica. A ruptura do processo se dá quando uma deflação de preços leva a um colapso. Os BC’s então elevam a taxa de juros e/ou queimam reservas, levando a um rearranjo de portfólios globais.
Nos estudos de caso, Krugman coloca que no caso Europeu, o Modelo Canônico não poderia ser utilizado, uma vez que não havia necessidade de financiamento da dívida pública via monetização. A causa da crise foi o desemprego por demanda inadequada e a resultante pressão nas autoridades monetárias para exercerem políticas expansionistas. Essencialmente, a crise Européia se deu frente a um trade-off entre custos políticos do desemprego e os custos políticos de se sair da UME. Quatro aspectos devem ser ressaltados: 1) atuação de Geoge Soros; 2) Irrelevância de reservas cambiais; 3) Crise praticamente não antecipada pelo mercado; 4) Países que abandonaram a paridade se deram melhor do que os que se mantiveram apegados à esta.
Já na Crise Latino Americana, principalmente no México e Argentina, existiam problemas de fundamentos econômicos e, no caso do México principalmente, surgiu de eventos não esperados (sunspots – Rebelião e assassinato de candidato à presidência). Em comparação com a crise Européia, tinham pontos de contato em que a quebra dos mercados financeiros anteciparam as crises e a maior diferença é o pós-crise, muito mais profunda nas Américas, pior ainda para a Argentina que não teve um massivo pacote de ajuda dos EUA.
Na Crise Asiática também contava-se com inconsistências nos fundamentos econômicos. Desenvolveu-se uma preocupação sobre fraquezas financeiras devido aos investimentos que eram feitos a partir de empréstimos “mal informados”. A confiança dos investidores nos governos da região não era completa. A Crise Asiática demonstrou como todas as economias são interligadas e que o perigo do contágio é realmente algo preocupante.
As formas de prevenção de crises são duas: Ou uma união monetária nos moldes europeus, ou o livre cambismo, que parece ter sido mais adotado. O câmbio livre previne crises especulativas, mas não desvalorizações e crises monetárias.